¾ dos envolvidos em atividades extensionistas na Unicentro são mulheres

Dos 285 projetos extensionistas vigentes, 194 são coordenados por mulheres

Durante vários séculos, as mulheres não foram reconhecidas como sujeitos na construção do conhecimento. Com o passar do tempo, essa realidade mudou e, hoje – apesar da constante luta por maior representatividade e pela igualdade de oportunidades – elas são a maioria nas universidades, e em todos os âmbitos – ensino, pesquisa e também na extensão. Na Unicentro, por exemplo, dos 285 projetos extensionistas vigentes, 194 são coordenados por mulheres. Uma dessas extensionistas é a professora Isabella Schroeder Abreu, do Departamento de Enfermagem, para quem a extensão anda sempre junto com a pesquisa. “A partir do momento em que eu entrei na universidade, quando fui seguir a vida acadêmica, fui investindo também na carreira de pesquisadora e nas atividades extensionistas”.

Isabella é a coordenadora do Numame, que é o Núcleo de Estudos, Promoção e Proteção do Aleitamento Materno – projeto de extensão voltado para auxiliar mulheres-mães em fase de amamentação, além de promover a conscientização sobre a importância do aleitamento materno. “O Numame”, explica, “visa principalmente essa questão do aleitamento materno e como essas mulheres podem ser incentivadas em relação à prática do aleitamento materno, focando sempre nas questões dos benefícios que o aleitamento materno pode trazer para a mãe e, também, para o recém nascido”.

Uma das extensionistas da Unicentro é a professora Isabella, que coordena o Numame (Foto: arquivo pessoal)

A ação extensionista, além de atuar diretamente com mulheres, também é realizada por mulheres. Uma evidência, acredita Isabella, do importante papel das mulheres na construção do conhecimento. “Muitas pesquisas realizadas por mulheres já contribuíram e estão contribuindo para o desenvolvimento e continuidade de estudos em várias áreas. As mulheres estão cada vez mais desenvolvendo e mostrando a importância da sua participação, do seu conhecimento em relação às pesquisas”, avalia Isabella.

Opinião compartilhada pela professora do Departamento de Psicologia da Unicentro Katia Alexandra dos Santos, que desenvolve pesquisas com as temáticas de gênero e coordena o projeto de extensão Núcleo Maria da Penha de Irati. O Numape busca orientar e oferecer assistência a mulheres vítimas de violência e tem como uma de suas atividades a oferta de orientações para que profissionais da saúde básica possam identificar sinais de violência contra as mulheres.

“Nós sentimos a necessidade de oferecer um projeto que envolve a questão da sensibilização das e dos profissionais que atuam na área da saúde para que façam notificação de situações de violência. E para que eles possam fazer essas notificações, é preciso que as equipes estejam sensibilizadas e treinadas, para identificar e acolher situações de violência contra as mulheres. Então, esse projeto tem esse objetivo, fazer com que as mulheres que chegam nos serviços de saúde com as mais diversas queixas, sejam acolhidas e também encaminhadas para serviços que possam auxiliá-las a sair dessa situação de violência”, elucida.

m Irati, o Numape é coordenado pela professora Kátia (Foto: arquivo pessoal)

Katia destaca que, mesmo dentro do ambiente acadêmico, ainda existem situações que tentam inviabilizar o papel que as mulheres ocupam na ciência, questionando até mesmo a validade de algumas pesquisas. “Eu senti isso um pouco mais quando eu assumi alguns cargos de gestão. Nessa relação, há sempre uma descredibilização da palavra da mulher. Mas eu poderia também listar as dificuldades de publicação por conta do tema, dificuldade de concorrer em edital pelo fato de se considerar que as questões que envolvem gênero talvez não sejam tão importantes. Então, acho que tem uma dinâmica, uma política institucional – e não estou falando da Unicentro, estou falando de modo geral, que invalida um pouco ou desmerece algumas pesquisas no campo das ciências humanas e sociais”.

As ações extensionistas também revelaram ter um lugar relevante na prática científica da professora Raquel Dalla Vecchia, do Departamento de Economia. A docente faz parte do quadro efetivo da universidade desde 1995 e, de lá para cá, foram diversas participações em projetos de pesquisa e ações extensionitas voltadas para as áreas de desenvolvimento econômico da regional, englobando as áreas ambiental e da agricultura familiar. Hoje, ela coordena um projeto de extensão que busca levar às mulheres educação financeira e o planejamento de finanças pessoais, levando noções de renda e empreendedorismo para mulheres. Para os desenvolvimentos das atividades, a ação conta com a parceria da Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres. “Ele visa a promoção da autonomia social e econômica dessas mulheres, e o nosso projeto tem como objetivo informar e conscientizar as participantes desse projeto Orquídea sobre a importância e a prática do planejamento das finanças pessoais, bem como o controle  e equilíbrio do orçamento familiar”, completa.

Para Raquel, as ações extensionistas validam e qualificam toda a produção do conhecimento passado. “Acabei me encantando com o trabalho extensionista, porque ele não apenas complementa, como qualifica a docência e promove esse diálogo e a troca de saberes com a comunidade a partir da prática e da vivência. Então, contribui muito com a produção de novos saberes, de novos conhecimentos”.

Ensinar conceitos de economia e possibilitar a autonomia financeira das mulheres é o objetivo do projeto desenvolvido pela professora Raquel (Foto: arquivo pessoal)

O fomento e a produção do saber desenvolvidos pelas pesquisadoras a frente desses projetos também inspiram alunas dos diversos anos da graduação a contribuir para esse processo. Hoje, na Unicentro, 75% dos estudantes envolvidos com a extensão são mulheres. A Gabriela Walter Gonçalves e a Juliane Nunes José participam do Numape.

“Para minha graduação agregou muito participar desse projeto e continua agregando. Desde o começo da graduação, eu me interessei por ele, porque ele agrega muitas discussões de gênero, o combate da violência contra as mulheres, que são temáticas bem importantes pra mim”, diz a primeira. “Diz respeito a uma importância histórica, no sentido de que a universidade foi por muito tempo ocupada principalmente ou exclusivamente por homens. Então, eu acredito que a presença de mulheres no ensino, pesquisa e extensão é uma afirmação de que a ciência é produzida também por mulheres e, além disso, porque eu acredito que a nossa presença nesses espaços tem o potencial de diversificar os conhecimentos que existem”, reforça a segunda.

A diversidade do conhecimento e a forma como ele pode ser passado também é destacado pela aluna do quarto ano de enfermagem, Roberta Losso, que participa do projeto Numame. “A gente ajuda essas mães a viverem essa fase que é muito importante para elas, essa fase de vínculo com seu bebê sendo facilitada por conhecimentos básicos que a gente pode passar para essas mães de maneira simples. Acho que essa é a importância, ajudar as mães nesse momento da vida delas. Eu, como mulher, é o que eu gostaria – de ter alguém comigo nessa fase, que está lá me ajudando, auxiliando, falando dicas que eu não teria se não fosse por essa pessoa”.

A participação da mulher na prática extensionista possibilita que muitos saiam ganhando – elas mesmas, as professoras e estudantes, mas sobretudo a comunidade. “A extensão universitária”, avalia Raquel, “traz consigo a viabilização e uma forma de aprendizagem que envolve a prática e a teoria, é a forma do aluno, ao entrar em contato com a comunidade, exercer aquilo que ele aprende em sala de aula”.  Já Kátia reforça “que a participação cada vez mais expressiva de mulheres na pesquisa e na extensão traz esse olhar diferenciado, um olhar que passa até pelo levantamento de alguns temas que os homens talvez não levantariam”.