Artesãos indígenas e quilombolas representam 15% dos alunos da Bolsa Qualificação Cultural

Dos 8.261 alunos aprovados no programa, 1.205 são de comunidades tradicionais, dos quais 523 receberam o apoio de técnicos que percorreram municípios no interior

Trabalhadores de comunidades tradicionais paranaenses, como indígenas e quilombolas, representam 14,6% dos 8.261 profissionais da cultura aprovados no programa Bolsa Qualificação Cultural. Realizado pela secretaria da Comunicação Social e da Cultura (SECC), via superintendência-geral da Cultura, em parceria com a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), o projeto contou com uma força-tarefa para tornar as inscrições mais amplas e inclusivas.

Para isso, a iniciativa liderada pela SECC contou com apoio da Superintendência Geral de Diálogo e Interação Social (Sudis). Técnicos da Sudis e da UEPG percorrem diversos municípios no Interior para assessorar as inscrições durante o mês de setembro. Na fase atual do projeto, as visitas são voltadas para auxiliar, quando necessário, o acesso às aulas e avaliações — um pré-requisito para o recebimento da bolsa, que exige a finalização dos três módulos.

Dos 1.205 alunos de comunidades tradicionais, 523 estão recebendo o apoio da força-tarefa. Os outros 682 fizeram suas inscrições de forma autônoma. As comunidades abarcadas pelo programa são dos municípios de Adrianópolis, Curitiba, Campo Largo, Piraquara; Nova Laranjeiras; Mangueirinha, Palmas e Ponta Grossa.

A Bolsa Qualificação Cultural é o maior programa do país nesta área: são 12 mil vagas para bolsas que pagarão três parcelas de R$ 1 mil, totalizando R$ 3 mil ao final do curso para cada participante. Os recursos são da Lei Aldir Blanc.

As aulas são realizadas no formato EaD e são divididas em três módulos de 40 horas, totalizando 120 horas em três meses. Atualmente, os cursistas já estão no segundo módulo e recebendo a primeira parcela referente à conclusão da etapa inicial.

“Foi um recurso que veio na hora certa nesse tempo de pandemia”, contou Leandro Koatan dos Santos, uma das lideranças da aldeia urbana de Kanané-Porã (“Fruto Bom da Terra”, em Kaingang). A comunidade, localizada em Campo do Santana, em Curitiba, conta hoje com 170 pessoas, entre Guaranis, Xetás e Kaingangs, que utilizam o artesanato como fonte principal ou complementar de renda.

“A maioria (dos moradores) faz artesanato, e a gente expõe na Praça Osório, no calçadão, e no Largo da Ordem”, acrescentou Leandro. Ele explica que, com a pandemia, as comunidades indígenas perderam muito de sua renda. “Para quem trabalha com artesanato, as vendas foram pequenas. A Bolsa Qualificação é de grande ajuda. A equipe que não mediu esforços para trazer esse projeto para nós”, completou.

A superintendente-geral da Cultura, Luciana Casagrande Pereira, afirmou que a Bolsa Qualificação é uma conquista da classe cultural. “Tivemos um número recorde de inscritos e conseguimos conceder o benefício para trabalhadores e trabalhadoras da cultura de todo o Paraná, incluindo os povos tradicionais. Isso é algo inédito que nos orgulha bastante”, declarou.

O secretário de Comunicação Social e Cultura, João Evaristo Debiasi, reforçou o ineditismo e a relevância da ação, que busca enfatizar a pluralidade de expressões culturais existentes no Paraná.

“A capacitação tem o objetivo de valorizar a cultura enquanto atividade econômica que também promove geração de emprego e renda. Esse projeto visa auxiliar na estruturação de novos projetos, e isso precisa passar pelos diferentes setores culturais, dando visibilidade às diferentes culturas presentes no Estado”, acrescentou Debiasi.

Inclusão Econômica – O acesso às comunidades foi realizado pelos técnicos da Sudis, que fizeram a ponte entre as equipes auxiliadoras e os agentes culturais das comunidades tradicionais. Mauro Rockenbach, superintendente geral de Diálogo e Interação Social do Estado, explica que a inclusão destes grupos é importante porque, além da possibilidade de fortalecer a frente da cultura, o programa leva ao trabalho da economia solidária em um momento de retomada econômica.

“Com o programa, você passa a dar condições melhores para quem já expressa sua cultura. Você dá vazão a uma das coisas que eles sabem fazer melhor, com qualidades que eles possuem e que muitos já não temos mais: a paciência, a contagem certa do tempo e o conhecimento ancestral. Eles aproveitam o material local, como bambu e cipó, transformam em produtos lindos e, com isso, conseguem mais uma fonte de renda”, explicou Rockenbach.

São exemplos da expressão da cultura indígena o artesanato, a cestaria e a produção de bijuteria. Já nas comunidades de matriz africana (quilombolas), são exemplos o artesanato, a dança e a música. “Além de serem produtos extremamente valiosos do ponto de vista do costume, também são valiosos do ponto social e economicamente”, acrescentou o superintendente.

Para Carlos Willians Jaques Morais, pró-reitor de graduação da UEPG e coordenador do Programa Bolsa Qualificação Cultural, a pandemia potencializou mais de uma forma de ensino a distância, com diversas possibilidades de levar conhecimento aos alunos. No programa, isso foi concretizado pela atuação da equipe — que da parte da UEPG contou com 20 facilitadores que atuam no Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância.

“As visitas às comunidades transformaram a mentalidade de nossos colegas da UEPG: foram muito bem acolhidos por comunidades indígenas, quilombolas, faxinalenses e caiçaras. Nossos colegas, que já atuaram nas inscrições e no desenvolvimento do Módulo I, querem logo voltar a visitar essas comunidades”, ressaltou o pró-reitor.