Agressões as mulheres aumentam durante o isolamento social

“A pandemia está expondo mais diretamente a violência contra a mulher”, diz Janaína Naumann

Os dados estatísticos, divulgados pela polícia e pelos órgãos ligados à defesa da mulher em Guarapuava, estão apontando para uma situação preocupante: a violência contra a mulher está aumentando nas últimas semanas na cidade. Segundo a secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, esse aumento foi de 12,8%, em comparação ao mesmo período do ano passado.

Os boletins da Polícia Militar têm apontado para um aumento gradativo nos casos de violência, principalmente nos finais de semana. A maior incidência de registros de denúncias ocorreu aos domingos, quando 25% das vítimas denunciaram seus agressores.

Para a biomédica Janaína Naumann, a situação sempre existiu, porém, com a pandemia, onde as pessoas estão mais restritas às casas, em respeito ao isolamento social, a violência está ganhando mais visibilidade. “A pandemia está expondo mais a situação. As mulheres estão denunciando mais e querendo se libertar, em muitos casos, de anos de opressão”, enfatizou.

Mas não é apenas a violência física que está mais evidente. Outras formas de agressão, como a psicológica e os ataques e difamações pelas redes sociais também causam grandes danos na vida das mulheres.

“Nós estamos tendo acesso a dados que são divulgados, de mulheres que estão denunciando e querendo pôr um fim nisso. Mas quantas mulheres não denunciam? Ou por medo de serem agredidas ou até pela pressão psicológica de que “irão morar embaixo da ponte com os filhos”, imposta pelos agressores?”, questionou a médica.

Em Todos os Níveis Sociais – Na avaliação de Janaína, engana-se quem pensa que a violência contra a mulher ocorre apenas em famílias com menor poder aquisitivo. Ela atinge a todas as classes e com a mesma intensidade.

“Na maioria dos casos, as agressões podem estar relacionadas com o consumo de álcool ou drogas, mas isso também não é regra. O principal em todos os casos e em todos os níveis sociais, é que ocorra denúncia por parte das mulheres. Somente assim, com punições aos agressores, a situação pode melhorar.”

Campanha – A biomédica ressalta a importância das campanhas de denúncias de violência contra a mulher, como uma ferramenta importante para identificar os agressores. “Todas as iniciativas são louváveis e fundamentais. Quando as mulheres se unem através de grupos, pelas redes sociais, e discutem abertamente essas questões, elas se fortalecem. Sozinhas são vítimas, mas unidas têm uma força quase insuperável”, avaliou Janaína.

Janaína destaca a campanha “Elas por Elas”, elaborada pelo grupo Mulheres Empreendedoras de Guarapuava, como um exemplo que dá certo na luta contra a violência. “São várias etapas nesse projeto, que defendem diretamente as mulheres. Vale a pena a população se inteirar e entender a proposta, pois ela é uma ferramenta que está tendo ótimos resultados em Guarapuava e merece ser usada como base para outras campanhas nesse nível”, acrescentou.

Mulher na Política – Janaína Naumann é a primeira mulher a ser oficialmente apresentada como pré-candidata a prefeita de Guarapuava. Ela defende que este setor também precisa ser mais ocupado por mulheres. “A política é o setor onde as mulheres ainda estão mais ausentes em todo o país. Por diversas questões, elas estão ocupando aos poucos os cargos políticos, mas estão chegando. Sabemos que não é uma questão de disputa entre homem e mulher, mas sim pela competência e pelas propostas”, ponderou.

“Por décadas, as mulheres foram vistas apenas como peças para compor uma exigência eleitoral e ocupar os 30% de vagas exigidas por Lei. Mas isso está mudando. Nestas eleições já poderemos perceber uma grande evolução nesse sentido.

Enquanto por um lado a pandemia está expondo mais a violência contra a mulher, por outro, ela (a pandemia) as está unindo muito através das redes sociais e elas estão entendendo a importância que representam em toda a sociedade. A pandemia está mudando também a maneira de as mulheres se verem e de entenderem o seu papel social, político, familiar. É uma mudança que não tem volta, e é para melhor”, concluiu Naumann.