O ‘Geringonça’ de Roberto Requião chega em Guarapuava

Movimento suprapartidário, liderado pelo ex-governador, debate a crise e a construção de políticas públicas para o Paraná

O ex-governador e ex-senador, Roberto Requião, que lidera o movimento ‘Geringonça’ esteve em Guarapuava para conversar com a população e lideranças locais sobre os projetos de sua pré-candidatura ao Governo do Estado. Acompanhado do deputado estadual Requião Filho (MDB) e do advogado e economista guarapuavano João Nieckars (MDB), Requião esteve na redação do jornal Extra para falar sobre sua caminhada com destino ao Palácio Iguaçu, aos 80 anos de idade.

“Estou com 80, mas com corpinho de 40”, disse bem humorado. Requião afirmou que não quer ser, mas que deve ser candidato a governador, juntamente com uma frente ampla de diversos personagens da política, para consertar o que foi destruído no Paraná pelos últimos governos.

“Nosso movimento ‘Geringonça’ é uma alusão ao projeto que nasceu em Portugal e foi apelidado pela direita portuguesa como geringonça, uma coisa que não serve pra nada. Mas, o projeto serviu (e serve até hoje). O movimento foi tão bem sucedido que ganhou a eleição e, hoje, Portugal é um dos poucos países que cresce apesar da crise. Portugal está crescendo de uma forma extraordinária”, explicou Requião.”

Com décadas de uma bem sucedida vida pública, em uma de suas plataformas, Roberto Requião sugere encampar o pedágio, transformando-o em atividade pública, com a criação de tarifa de manutenção. Governador por três vezes, Roberto Requião lembrou que lutou contra as concessionárias e que o Ministério Público Federal e a Justiça Federal sempre jogaram com os pedágios –contra os interesses dos paranaenses, lamentou.

Segundo Requião, a proposta de encampação possibilitaria a cobrança de tarifas de manutenção e, consequentemente, a retomada do desenvolvimento, do crescimento e da geração de empregos. Requião ainda criticou o governador Ratinho Junior (PSD), que, na nova concessão, planeja 15 novas praças de pedágio no Paraná.

Encampação – A encampação é instituto do Direito Administrativo. De modo geral, trata-se da retomada coercitiva do serviço pelo poder concedente. Ocorre durante o prazo da concessão e por motivo de interesse público. É vedado ao concessionário oposição ao ato, contudo, tem direito à indenização dos prejuízos efetivamente causados pelo ato de império do Poder Público.

No caso do Paraná, os atuais contratos, vigentes há 25 anos, vencem em novembro. Segundo os deputados Arilson Chiorato (PT) e Requião Filho (MDB), as concessionárias devem aos usuários paranaenses, aproximadamente, R$ 10 bilhões por cobrança indevida nas tarifas e obras não realizadas.

Tarifa de Manutenção – Requião explicou que as concessionárias são apenas atravessadoras, que cobram “extraordinárias” taxas de retorno para satisfazer acionistas e sócios. Por isso, disse o ex-governador, “essas pedagiadoras são dispensáveis para o poder público”.

O ex-governador disse que o Estado pode trabalhar em parceria com empreiteiras locais, do Paraná, sem atravessadores, e, com isso, cobrar taxa de manutenção e valor módico dos usuários de rodovia. Requião não mencionou valores, no entanto, membros da Frente Parlamentar sobre o Pedágio estimam que o “pedágio público” poderia cobrar tarifa de até R$ 3,50.

Geringonça – O ‘Geringonça’ é um movimento plural e suprapartidário que surgiu, no começo de 2021, para discutir os gargalos do Paraná. Reúne políticos, lideranças e personalidades que se opõem ao governo Ratinho Junior (PSD) acerca de diversos assuntos, como pedágio, saúde, vacinação, tarifas de água e luz, economia, educação, enfim, na oferta de serviços públicos essenciais aos paranaenses.

‘Geringonça’, no sentido político, é como se chama a coalização formada pelos partidos de esquerda (como já citou Requião) e que se colocou como alternativa ao neoliberalismo, em Portugal, desde as eleições de 2015. A geringonça portuguesa reúne o Partido Socialista (PS), o Bloco de Esquerda (BE), o Partido Comunista Português (PCP) e o Partido Ecologista Verdes (PEV) e formam maioria no Parlamento Português até hoje.

Segundo Requião, idealizador do movimento no Paraná, é a partir desta experiência que os partidos que estão fora da base de apoio que elegeu Jair Bolsonaro tentam repetir no Brasil a mesma fórmula, na tentativa de criar uma frente ampla ou frente única para enfrentar o bolsonarismo na política de forma geral.

Mesmo sem partido, o ex-senador intensificou, nos últimos dias, contatos político-partidários com entidades de juventude, sindicatos, federações, associações e centrais sindicais, tudo como manda o figurino do movimento ‘Geringonça’. O pré-candidato se diz “aberto a todos os convites que queiram discutir melhorias para o Estado”. É o famoso “me chama que eu vou”.

PT x Requião – O deputado Arilson Chiorato, presidente do PT no Paraná, além de embarcar o partido na caravana de Requião, pelo Paraná, é um dos coordenadores da agenda política da pré-candidatura do ex-governador ao Palácio Iguaçu no pleito de 2022.

Os temas centrais da caravana requianista serão a encampação do pedágio pelo Estado, com a redução da tarifa aos usuários das rodovias; congelamento com redução das tarifas de água e luz; isenção de impostos para retomar o desenvolvimento e a geração de empregos; dentre outras bandeiras, que serão lançadas em público.

Antes de começar oficialmente a ‘Caravana Pelo Paraná’, Requião visitou este fim de semana Pinhão e Guarapuava, onde nasceu sua mãe Lucy Requião.

PT, PDT ou PSB? Qual será o destino do ex-governador do Paraná

O ex-governador e ex-senador Roberto Requião disse, ao colega Esmael Moraes, Blog do Esmael, que já definiu em qual partido irá se filiar, no entanto, assegurou que baterá o martelo da filiação somente em novembro próximo. Do ponto de vista do prazo de filiação, a atual legislação eleitoral exige um tempo mínimo de seis meses. Segundo o ex-governador do Paraná, as conversas estão bem encaminhadas com PSB, PT e PDT. Qual será seu destino?

No PSB, de acordo com Requião, a direção nacional estuda renovar o comando no Paraná com o vencimento do atual mandato no diretório estadual em novembro, o que facilitaria a entrada do ex-senador na sigla. O presidente do partido, Carlos Siqueira, está alinhado à esquerda e com Lula, o que contraria o apoio a Ratinho Junior (PSD), aliado do presidente Jair Bolsonaro. Requião pode pintar por lá.

O deputado Requião Filho (MDB), filho do ex-governador, confirmou, também ao Blog do Esmael, que vai se filiar no PDT, em março próximo, na janela partidária. Seu partido momentâneo, o MDB, corre risco de não eleger nenhum parlamentar na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) na eleição de 2022, avaliou o deputado. O filho no PDT, seria o mesmo caminho do pai?

Vale lembrar que o PT foi um dos primeiros a convidar Requião. No começo de agosto, em São Paulo, ele se reuniu com Lula. O ex-presidente renovou o convite ao ex-governador, que pediu um tempo para analisar a proposta. Lembrando que Requião e Lula já dividiram o mesmo palanque, em outras épocas. Será que, dessa vez, dividirão a mesma legenda? A conferir.