A lenda do soldado degolado

  • (Publicado na edição 105 do jornal Extra Guarapuava)

O nome ninguém mais sabe ao certo. Certeza, porém, é que a lenda virou realidade. Dois soldados maragatos, nos idos de 1830, durante a Revolução Federalista, desertaram da tropa do capitão Zeca Tigre e perderam-se pelas matas do alti-plano paranaense. Nem sabiam onde estavam, o que foi pior para um deles.

Com sede e com fome, chegaram a uma fazenda, mas acabaram assustando as moças que achavam ser eles estupradores. Eram nada. Eram apenas dois garotos que se recusavam a matar outros brasileiros em nome de uma revolução que até hoje nem se sabe que objetivo tinha.

As moças gritaram por socorro, com medo. A peãozada chegou correndo e prendeu um deles. O outro escafedeu-se pela mata e nunca mais se soube dele ou foi visto. Pode até ter virado o famoso e conhecido por muitos, monge Zé Maria, muito visto e comentado em todas as matas do Paraná ao Rio Grande do Sul, passando por Santa Catarina.

Pobre do rapaz que foi apreendido pelos peões. Garoto ainda, recém criando barba, foi amarrado a uma árvore e ali, com fome e com sede, esperou a chegada do comandante da tropa, um capitão do mato que virou general de tropas, coisa comum naquelas épocas.

– Então é esse o homem que não é homem, e que desertou com medo de morrer? disse o comandante, assim que se aproximou do jovem soldado, que tremia de medo. Alguns preferiam acreditar que tremia era de frio, porque frio não é coisa em falta na região de Guarapuava, seja outono, primavera, verão ou inverno.  A verdade é que ele tremia.

– Pois vai morrer de qualquer maneira, seja de tiro ou de adaga, gritou o capitão do mato, e deu ordens para que a peãozada levasse o garoto para uma clareira. Ali, foi obrigado a cavar a própria cova, entre choros e arrependimentos. Entre uma pazada de terra e outra, implorava por perdão.

– Homem não chora!Homem não implora! Homem não geme! Homem morre como homem, disse o comandante, logo que a cova chegou a uma profundidade considerada razoável. E o facão passou pela garganta do pobre garoto que, literalmente, perdeu a cabeça.

O corpo caiu e foi enterrado. A cabeça foi levada como troféu, para desestimular outros desertores.

  • Lenda

Aqui começa a lenda do soldado degolado. Para ele foi erguida uma capela – veja só que ironia – na Rua General Carneiro. Muitos dizem que por ali era visto um corpo sem cabeça andando prá lá e prá cá. Há quem jure que por ser ele um inocente, realiza milagres. Tanto que a capela, erguida durante a administração do prefeito Nivaldo Kruger, cheia de imagens de santos, é ponto de peregrinação. Nos domingos isso aqui fica cheio de gente, fala o vizinho Paulo, que se responsabiliza, com outros vizinhos, por abrir a capela sempre que aparece um crente.

Virou não apenas o ponto de peregrinação. É ponto turístico da cidade e patrimônio histórico. Pedro ironiza: se é patrimônio histórico, porque não cuidam? A praça é suja, a grama ninguém corta e o local está se transformando em ponto de consumo de drogas, ressalta.

No interior as imagens se sobrepõem num improvisado altar. A pintura é recente, mas internamente há frases rabiscadas na parede. E a há imagens de santos para todos os gostos e crenças.

Mito ou realidade, o caso do soldado degolado foi motivo para um casos e causos da TVParanaense.