[Entrevista] Na opinião de João Nieckars a política afeta diretamente a vidas dos cidadãos e o brasileiro precisa parar de iconizar personagens: “a solução não está no eleito, mas no eleitor”.

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O nepotismo nos cargos eleitorais é muito mais nocivo que o nepotismo em cargos comissionados, lá se criou uma indústria de cargos passados de pai para filhos há décadas

Nesta edição de aniversário de Guarapuava, nosso destaque ao advogado e professor universitário, João Nieckars, de 35 anos. Com olhar crítico par política local, estadual e federal, filiado a REDE Sustentablidade, quer construir uma carreira pública para ajudar a realizar as transformações que Guarapuava anseia. Nieckars, que já anunciou pré-candidatura a deputado Federal e se diz ser uma opção independente das velhas famílias políticas da cidade. Confira alguns tópicos da entrevista.

Quem é João Nieckars?
João Nieckars – Sou natural de Guarapuava, graduado em Economia pela Unicentro e em Direito pela UniCuritiba. Além de atuar como advogado há mais de dez anos na área do Direito Empresarial, sou professor universitário, empresário, conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e tento ser um ativista político. Fui candidato à prefeito pela REDE em 2016 e hoje sou um dos Porta-Vozes do partido na cidade e membro do Elo diretivo no Paraná.

Empresários e profissionais se eximem em entrar na política. O que levou o senhor a concorrer a um cargo eletivo?
João Nieckars – Percebo que está é a postura da maioria dos brasileiros, que acredita que nós, como boas pessoas, não devemos participar da política. Pensar dessa forma, no meu ver, é um erro. A gestão pública afeta diretamente nossas vidas e, talvez, o maior equívoco do brasileiro seja terceirizar a responsabilidade e iconizar alguns personagens. Collor já foi a salvação do Brasil, depois veio FHC, Lula e agora já indicam um outro salvador da pátria. Nos acostumamos a terceirizarmos a obrigação de mudança para um político e tiramos do nosso colo a responsabilidade por fiscalizar e exigir. Elegemos um candidato sonhando que ele fará tudo o que a cidade precisa, que é um engano! Como eleitores temos uma parcela de culpa pelo baixo desempenho dos gestores, pela corrupção, quando somos egoístas e não saímos de casa para protestar contra a corrupção e contra os desmandos políticos.
Política não se faz apenas com dedinho na tela do celular. Quantos de nós sai de casa para exigir que os políticos façam tudo aquilo que nos prometeram? A nossa ausência na política dá espaço a toda esta situação horrível que vivemos no país e somente com mudanças efetivas no nosso comportamento, como cidadãos, é que vamos alcançar as transformações que queremos.

Guarapuava teve baixo desenvolvimento em algumas gestões passadas, comparada a outras cidades do mesmo porte. Como senhor vê isso e aonde os gestores erraram?
João Nieckars – Há um livro do professor Ricardo Olivei-ra (UFPR) chamado Na Teia do Nepotismo que retrata muito bem essa situação. De Guarapuava à Curitiba, ao longo de décadas, o Paraná é governado por integrantes de algumas famílias. Os Camargo que governaram este Estado e já foram naturais desta cidade, dentre outros como Cury, Requião, Malucelli, Richa, Loures e, aqui em Guarapuava, as famílias Carli, Silvestri, Mattos Leão e assim por diante, que constituíram uma verdadeira teia permanente de ligações no poder público.
Cômico é que algumas pessoas dessas famílias criticam programas como Bolsa Família, vale gás e ProUni, destinados a pessoas de menor renda, mas essas mesmas famílias ocupam cargos públicos e são por eles beneficiados, com recursos financeiros e influência, há decadas!
Algumas cidades que não apresentam esse nepotismo eleitoral, essa tradição da política de pai para filhos, como Cascavel, Beltrão, Umuarama, Toledo, Maringá e outras, cresceram muito mais que Guarapuava que hoje possui uma das menores renda per capita do Estado, uma economia concentrada na extração agrícola e na prestação de serviços e um baixíssimo nível de industrialização. Nossa economia é movida a baixos salários e este é o principal problema da cidade.

O senhor pôs seu nome junto a REDE para concorrer ao cargo de deputado Federal. Qual é mesmo a função parlamentar?
João Nieckars – Na prática existe confusão entre as funções legislativa e executiva em todo país. O legislativo, hoje em dia, o que menos faz é legislar e fiscalizar. O que se nota é a falta de capacidade técnica de muitos legisladores e a falta de visão em direção aos interesses da população.
Vereador preocupado em arrumar remédios e exames médicos para seu eleitor e deputados distribuindo ambulâncias e viaturas. O Legislativo, a bem da verdade, não fiscaliza mais nada, fazendo com que o Poder Judiciário tenha que atuar para suprir o absoluto relapso das Câmaras e Assembleias. Veja, ocorreram desvios no transporte público e na saúde aqui de Guarapuava e onde estão os vereadores (fiscais) que não viram nada?
Temos a Operação Quadro Negro no Paraná e a Lava-Jato no governo federal e novamente, onde estavam os parlamentares que não fiscalizaram nada? Ou nossos legisladores não tem qualificação técnica ou fizeram vistas grossas e, de qualquer forma, não é desse tipo de político que precisamos, portanto devemos aproveitar a eleição de 2018 para uma limpeza ampla na política.

Qual sua opinião sobre os pedágios?
João Nieckars – Quando os pedágios foram modelados se tinha em mente o projeto das duplicações completa da rodovia BR 277 e essa obrigação sofreu alterações terríveis ao longo das gestões estaduais que prejudicaram o contribuinte que, mais de vinte anos após as privatizações, ainda trafega em pista simples na maior parte do chamado anel de integração do Paraná.

Não sou contra os pedágios, sou contra a cobranças de tarifas abusivas e sem a contrapartida necessária. Veja, comparadas a outras praças de pedágios do Sul do país e São Paulo, as tarifas do Paraná são as mais caras e as menos retributivas. O pedágio ao longo dos anos se tornou um mecanismo de troca política e isso nós não podemos aceitar como correto. No Paraná privatizamos os serviços de manutenção de várias rodovias e, ao mesmo tempo, aumentamos a alíquota do IPVA. A conta sempre sobra para o cidadão.

Guarapuava deverá abrigar pacientes de cerca de 40 cidades. Quais os benefícios e as consequências disso?
João Nieckars – Ao longo de décadas temos um modelo de gestão de urbanização que produz a polarização e o esvaziamento na prestação de alguns serviços principalmente na área médica nas pequenas cidades. Já ficou provado que as cidades polos não vão resolver todos os problemas da região, ao contrário, polarizar investimentos desprestigia o crescimento uniforme do Estado. Na Europa e no Canadá, por exemplo, existem uma versão de gestão diferente, onde cada cidade desenvolve as condições necessárias para atender a população e recebe investimento dos governos centrais para tanto. Certamente aqui teremos uma qualidade de atendimento, mas é preciso avaliar o que é mais salutar para o cidadão, ser atendido num polo regional distante, com todo o transtorno de deslocamento, ou ter modalidades de atendimento de saúde próximo da sua casa. Os hospitais em Pinhão, Cantagalo e Laranjeiras do Sul, com risco de fecharem as portas sofrem com o baixo investimento, deveriam de ter ajuda do Estado para obter as condições necessárias para atender a população local.

Dizem que alguns meios de comunicação de Guarapuava pertencem a grupos políticos. Qual sua opinião sobre a imprensa local?
João Nieckars – Nós temos situações que justificam essa opinião. Entretanto, a imprensa de qualidade, opinativa e independente também está presente e é muito positiva para os debates sociais e cidadãos. A informação, que é semente para a formação da consciência intelectual do cidadão, precisa chegar de forma limpa e imparcial ao leitor ou ouvinte.

Não vamos na Prefeitura, Assembleia ou na Câmara todo dia para ver o que os gestores estão fazendo, por isso a importância dos meios de comunicação atuantes, que transmitam a boa e limpa notícia, mas também apresentem conteúdos de crítica e sugestões. Tivemos por anos um vácuo de notícias na imprensa guarapuavana, que começa a mudar com entrada de profissionais e canais de comunicação no meio impresso, digital, falado e televisionado que estão seriamente comprometidos com a informação. Não podemos ter só a opinião daquele que detém um mandato eletivo, é importante ouvir e ver a opinião da sociedade num todo.