Morte de advogada tem semelhanças com o caso Muggiati

No velório, um lenço envolvia o pescoço da advogada guarapuavana (Foto: Reprodução/Facebook)

 

Por Jonas Laskouski (Matéria publicada na edição 368 do jornal Extra Guarapuava e atualizada para inclusão de informações)

 

Em um ofício com data de 22 de julho de 2018, dia da morte de Tatiane Spitzner, o delegado Wellington Yuji Daikubara, que respondia pelo plantão na Delegacia da Polícia Civil de Guarapuava (14ª SDP) pede ao diretor do IML (Instituto Médico Legal) do município, que sejam realizados exames específicos para constatação de morte por asfixia (por esganadura).

 

 

A equipe de investigação trabalha também com a hipótese de Tatiane ter sido morta antes mesmo de cair da varanda do apartamento 403, do edifício Golden Garden, no Centro de Guarapuava. No entanto, a principal linha investigada é se Luís Felipe Manvailer, marido da advogada, teria jogado Tatiane do 4º andar ainda viva. A hipótese de suicídio não é descartada. Ele se declara inocente, e junto com a defesa, nega as acusações.

 

 

O Extra Guarapuava entrou em contato com o IML no final da manhã dessa quinta-feira (26) e conversou com o agente de perícia e chefe administrativo do local, Obadias de Souza Lima Junior. Transferido recentemente de Curitiba para Guarapuava, Obadias trabalhou no Caso Renata Muggiati, que aconteceu na capital do Estado em 2015, e foi categórico ao dizer que os casos apresentam muitas semelhanças.

 

CASO MUGGIATI

 

De acordo com investigações, a fisiculturista Renata Muggiati (foto acima/Reprodução) caiu do 31º andar de um prédio no Centro de Curitiba. No boletim de ocorrência, à época da morte, o namorado de Renata, o médico Raphael Suss Marques (foto abaixo/Reprodução) disse que a namorada havia se atirado do apartamento e que estava passando por frustrações e depressão. Ele foi preso e solto, pouco tempo depois.

 

 

O primeiro exame do IML indicou que a fisiculturista não havia sido asfixiada pelo namorado, antes da queda. No entanto, uma segunda análise do IML mostrava que ela tinha sido asfixiada. O Ministério Público e a Secretaria de Segurança do Paraná abriram investigações para apurar por que saíram dois laudos do IML com resultados opostos. Para esclarecer as dúvidas sobre a morte de Renata, a Justiça determinou a exumação do corpo. O resultado confirmou que a fisiculturista já estava morta ao cair do prédio. Um médico-legista foi indiciado por falsa perícia. Raphael Suss Marques aguarda julgamento.

 

CASO TATIANE

Em Guarapuava, todos os procedimentos necessários foram feitos no cadáver de Tatiane Spitzner, antes que o corpo dela fosse liberado pelo IML. Estamos tomando todas as precauções e cuidados para que não se cometam os mesmos erros (do caso curitibano), disse ele.

 

 

A queda de Tatiane da sacada do quarto andar do Edifício Golden Garden (foto acima/Divulgação: Polícia Civil) causou politraumatismo – fraturas em diversos lugares do corpo. Foram coletadas peças anatômicas do cadáver e enviadas a laboratórios de Anatomopatologia, de Toxicologia e de Bioquímica Legal, em Curitiba, disse Obadias. Segundo ele, são exames metódicos e complexos que podem demorar até 30 dias para serem concluídos. São eles também que vão atestar se Tatiane foi asfixiada ou não, conclui o agente de perícia.

 

DEPOIMENTOS

Na segunda-feira (23), o delegado Bruno Miranda Maciozek (foto abaixo/Extra), que está no comando das investigações, disse ao Extra que o inquérito seria concluído em 10 dias. Agora, o prazo pode ser estendido.

 

 

Enquanto isso, o delegado continua ouvindo testemunhas e pessoas ligadas à convivência com o casal. Na quarta-feira (25), o pai de Tatiane, Jorge Waldemir Spitzner iria depor na Polícia Civil, mas tomado de forte emoção acabou mudando de ideia. O depoimento dele aconteceu ontem (quinta, 26). Jorge foi ouvido por cerca de uma hora e meia, informou o G1.

 

Luís Felipe Manvailer está preso na Penitenciária Industrial de Guarapuava, depois de ser transferido de São Miguel do Iguaçu, no Oeste do Estado. A princípio, ele iria para o Complexo Médico Penal, em Pinhais, a pedido da defesa. Mas, a PC pediu à Justiça que ele viesse para Guarapuava. A juíza Paola Gonçalves Mancini, da 2ª Vara Criminal, acatou o pedido e determinou a transferência do suspeito para a PIG.

 

DEFESA E ACUSAÇÃO

A defesa de Luís Felipe Manvailer, suspeito pelo feminicídio contra Tatiane Spitzer está sendo feita pelo advogado Claudio Dalledone Junior, da Dalledone & Advogados Associados. O mesmo escritório atua na acusação do caso Renata Muggiati, em Curitiba.

O advogado Gustavo Scandelari, que representa a família de Tatiane, acompanhou o depoimento do pai e disse que as informações repassadas por ele contradizem muitas coisas ditas pelo marido.

Há muito indícios que comprovam que a doutora Tatiane estava querendo o divórcio, ela vinha falando sobre isso com amigas, com os pais e com o próprio suspeito, o qual negava qualquer possibilidade de divórcio. Ele se recusava a aceitar isso. Relatos de que ele ficava violento de que a relação nos últimos 30 dias, ou mais, dois meses atrás, ela se tornou abusiva em alguns momentos, declarou ele ao G1 Paraná.

Para o advogado, mesmo com as investigações ainda em andamento, há indícios de que houve crime.

Existem, lamentavelmente, indícios de que houve um crime, um crime bárbaro e nós estamos aguardando a conclusão dessas provas, oficialmente, para que possamos conduzir doravante com o nosso acompanhamento desse caso, informou.

Entre os sinais apontados por Scandelari está o comportamento agressivo do suspeito relatado por testemunhas e a forma como ele agiu logo após a morte da esposa.