Combate à hanseníase e luta contra o preconceito em Guarapuava

Pacientes podem levar uma vida normal e não representam riscos a quem está à sua volta 

Conhecido como “Janeiro Roxo”, na área da Saúde o primeiro mês do ano é marcado pelas campanhas de conscientização e combate à hanseníase. Em Guarapuava, o Serviço de Atenção Especializada (SAE) promove ação com o foco no combate ao preconceito e à discriminação enfrentados pelas pessoas afetadas pela doença.

Ao longo deste mês, estão programadas diversas ações, incluindo a distribuição de material informativo em pontos estratégicos da cidade e a sensibilização de profissionais de saúde para uma abordagem humanizada, além de outras atividades que ainda estão sendo construídas.

Ângela Maria de Camargo, enfermeira coordenadora do SAE, destacou que o diferencial desta campanha é abordar questões cruciais, como o estigma e a discriminação enfrentados por aqueles que vivem com hanseníase. “Queremos enfatizar que a doença tem cura e que o município oferece serviços especializados para garantir o tratamento adequado”, pontuou.

“Não queríamos apenas focar em diagnóstico, prevenção e tratamento, mas também destacar para a população que a hanseníase ainda é uma realidade. Muitas pessoas, em minhas conversas, ainda questionam se a hanseníase existe. Sim, ela existe, mas é crucial que as pessoas saibam que possui cura e que basta a disposição para o tratamento.

Não há motivo para temer o contato físico com alguém que tem hanseníase; ela não é transmitida pelo toque. No passado, as pessoas com hanseníase eram isoladas, perdiam contato com suas famílias, mas agora é diferente. Queremos desmistificar não apenas para a população em geral, mas também para aqueles que têm hanseníase”, destacou Larissa Bento de Azevedo, enfermeira do SAE, responsável pela campanha.

Histórias que motivam

Valdeci Pilatti Carriel, de 55 anos, foi paciente do SAE durante o ano que passou (2023) e recebeu alta nessa quarta-feira (10). Ele descobriu a doença há pouco mais de um ano, e conta que foi um período de muita insegurança. Porém, o tratamento recebido dentro da unidade foi fundamental na sua melhora.

“Eu comecei a sentir muitas dores nas pernas, não conseguia calçar o sapato, a perna tremia. Minha cunhada ligou para as meninas, surgiu a possibilidade de ser hanseníase. As dores aumentaram, e daí eu vi que não era brincadeira. Comecei o tratamento, e graças a Deus, agora eu estou bem. Fui muito bem-tratado, não tenho nem palavras. Estou muito, muito feliz!”, expressou Valdeci.

De acordo com Pilatti , quem tem hanseníase ainda sofre preconceito em razão do desconhecimento da doença. Contar a sua história, então, contribui para desmistificar a doença, além de incentivar outros que enfrentam a mesma condição a identificar os sintomas precocemente e procurar assistência médica.

Serviços ofertados pelo SAE para o combate à hanseníase

  • O SAE disponibiliza um diagnóstico preciso, assegurando um acompanhamento contínuo ao longo dos 12 meses de tratamento.
  • Esse acompanhamento é conduzido por uma equipe multidisciplinar composta por médicos, enfermeiros e agentes comunitários de saúde.
  • Além disso, após a conclusão do tratamento, os pacientes contam com suporte adicional, incluindo avaliação dermatológica, acompanhamento psicológico e assistência social.
  • Esta última vertente visa identificar necessidades específicas, oferecendo orientação no processo para obtenção de benefícios e, quando necessário, acesso a uma cesta básica mensal.

Sobre a hanseníase

Adriana Marin, médica do SAE, esclarece que a hanseníase é uma doença crônica infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae. Esta afeta principalmente a pele, nervos periféricos, mucosas do trato respiratório superior e olhos. Em 2023, sete pessoas foram diagnosticadas com a doença em Guarapuava.

É transmitida de pessoa para pessoa por meio de secreções nasais e da boca, geralmente em situações de contato próximo e prolongado com um indivíduo infectado não tratado.

Possui uma ampla gama de manifestações clínicas, sendo classificada em diferentes formas, que variam desde casos mais brandos até formas mais severas.

A principal característica da hanseníase é a formação de lesões cutâneas e acometimento dos nervos periféricos, levando à perda de sensibilidade nas áreas afetadas.

O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para prevenir sequelas, reduzir a transmissão da doença e promover a cura. A terapia envolve, geralmente, a administração de antibióticos específicos ao longo de um período prolongado.

É importante destacar que a hanseníase não é altamente contagiosa, e a maioria das pessoas que entra em contato com a bactéria não desenvolve a doença. Além disso, é possível obter cura com o tratamento adequado, permitindo que os pacientes mantenham uma vida normal.

Embora a prevalência da hanseníase tenha diminuído significativamente ao longo dos anos, a luta contra o estigma e a discriminação associados à doença continua a ser um desafio importante.

“Foi a minha primeira experiência aqui, com um paciente com diagnóstico de hanseníase. A doença é desafiadora, com diagnóstico demorado e muitas dores. Apesar dos estigmas, é gratificante ajudar esses pacientes. A hanseníase tem tratamento eficaz pelo SUS. Quanto mais cedo o diagnóstico, menos sofrimento para o paciente. Não há motivo para medo; estamos aqui para ajudar”, reforçou Adriana Marin.

O SAE fica na Rua Presidente Getúlio Vargas, 1981 – Centro de Guarapuava. O telefone para contato é (42) 3142-1572.