Bipolaridade e empreendedorismo: Como o preconceito segrega e destrói sonhos

O Transtorno de humor bipolar (TAB) é a segunda maior causa de suicídio no mundo. Boa parte disso se deve ao preconceito, segregação, falta de diagnóstico precoce, atendimento especializado e muitos mitos em torno da doença.

Provavelmente você já deve ter falado ou ouvido as seguintes falas:

“fulano é meio bipolar”, “fulano está bipolar hoje”, “essa pessoa deve ser bipolar”, “hoje acordei bipolar”, “eu acho que sou bipolar, mudo de ideia toda hora”, “não gosto de pessoas bipolares, elas não sabem o que querem”. E pior ainda, quando associam a bipolaridade a falta de caráter e ao capacitismo!

Infelizmente todas essas falas são ditas o tempo todo sem nenhum pudor. Devido a isso, pessoas portadoras do transtorno de humor bipolar na maioria das vezes escondem a doença. Vivem com medo de serem descobertas, passam a acreditar que não são capazes de ter uma vida dentro dos “padrões de normalidade”.

No empreendedorismo feminino temos muitas mulheres portadoras de TAB, são mulheres de sucesso e sempre se destacam no que fazem. Porém muitas se isolam e sentem-se envergonhadas devido as falas preconceituosas.

O preconceito como já sabemos é sempre baseado na ignorância e na falta de empatia.

Mas o que é o transtorno de humor bipolar?

Primeiramente precisamos esclarecer o que não é o transtorno! Geralmente a maioria acredita que o bipolar muda de humor varias vezes no dia, ou muda de humor repentinamente, ou se trata de alguém indeciso, ou agressivo, mas tudo isso é FALSO e vale lembrar também que bipolaridade de nada tem a ver com caráter! Existem várias classificações de Bipolaridade, mas aqui vamos falar de dois tipos, que são os mais comuns. Começando pelo tipo 1 que é o mais conhecido (clássico) e o mais representado em filmes e series.

O principal no tipo 1 é a fase de mania onde os comportamentos são exacerbados, exagerados, com muitas compulsividades e impulsividade, tudo é ao extremo. Alternando com ciclos de depressão e hipomania.

O tipo 2 é o mais comum entre os portadores, as oscilações ocorrem entre a hipomania, que é uma ativação mental, onde o sujeito fica mais ativo, com energia em excesso, impaciência, agitação e impulsividade em níveis bem menos elevados que os da mania. A depressão já se configura como uma depressão mista ou conhecida também como uma depressão agitada, onde os sintomas são, humor deprimido, agitação, irritabilidade, aumento da impulsividade (aqui mora o perigo) ansiedade, pensamentos acelerados, desatenção e falta de concentração. No tipo 2 o diagnostica muitas vezes chega tarde, pois os sintomas por serem mais brandos em comparação ao tipo 1, passam despercebidos.

Importante salientar que os ciclos podem durar dias ou até meses e alternar com períodos de estabilidade. Por isso, falar que alguém é bipolar pelas mudanças repentinas de comportamento é uma falácia absurda! Existem pessoas que tem dificuldade em lidar com frustrações e acabam tendo mudanças expressivas de humor e comportamento, mas isso não tem nada a ver com bipolaridade, lembre-se sempre disso!

Bipolaridade não tem cura e é considerada uma doença crônica pelo DSM-5, existe tratamento com medicamentos e psicoterapia, higiene do sono, atividade física e uma alimentação regrada também são recomendados para auxiliar no tratamento.

A vida de um bipolar não é fácil devido a complexidade da doença, agora imagina isso na vida de uma mulher empreendedora, que precisa lidar todos os dias com os desafios de um empreendimento, gatilhos relacionados ao trabalho podem levar a novos episódios seja de mania, hipomania ou depressão. Por isso viver com esse transtorno é um grande desafio e na nossa sociedade existem muitas empreendedoras incríveis vivendo esse desafio.

Agora que você já conhece um pouquinho sobre o que é bipolaridade, vou te pedir para ser um mediador e levar sempre as informações corretas sobre essa doença, devemos sempre alertar para o impacto que todas essas falas tem na vida das pessoas. Lembre-se pessoas com esse transtorno costumam manter apenas no privado o seu diagnóstico, você pode um dia “sem querer” soltar uma dessas falas mencionadas aqui, na frente de algum bipolar e acabar ativando um gatilho e não só por isso, mas porque não devemos banalizar transtornos mentais. Saúde mental não se brinca!

Por: Marionita Gonçalves Dias – Psicóloga (CRP-08/19722)