Sintonia Hip-Hop: Duas décadas levando música e informação

Programa, apresentado por Mano Hood na Unicentro FM, tornou-se um dos principais canais de divulgação do rap no Paraná

O programa Sintonia Hip-Hop, apresentado por Rudimar da Rocha  Rebello – o Mano Hood – na Unicentro FM, que se tornou um dos principais canais de divulgação do rap no Paraná, e deu visão do movimento para Guarapuava e região, está completando 20 anos. Importante ressaltar que, em duas décadas, as ondas sonoras, emitidas por Mano Hood, já alcançam várias cidades paranaenses levando muito rap para a rapaziada.

Trazido ao Brasil em meados dos anos de 1980, e difundido por Nelson Triunfo (uma das cabeças pensantes), considerado o ‘pai do hip-hop’, o movimento ganhou notoriedade em Guarapuava pelas mãos de Mano Hood, um dos principais expoentes do segmento, com muitas reivindicações e lutas, mostrando o cotidiano da periferia guarapuavana.

O movimento, idealizado por Kool Herc, foi ‘adotado’ por Mano Hood e difundido pelo seu Sintonia Hip-Hop. O locutor da Unicentro FM apresenta o programa transmitindo músicas e entrevistas que fazem parte do estilo.

“Eu conheci o rap quando eu comecei a andar de skate, aos 11 anos de idade, e aí eu conheci o rap internacional. A partir dali eu conheci o rap nacional, então as duas culturas urbanas estavam caminhando juntas naquele momento”, contou.

Se você quer conhecer uma cidade, você deve procurar o rap daquela cidade. Porque você não vai ver só o cartão-postal, você vai ver como é a realidade da pessoa segregada

A principal característica atribuída ao rap é o poder de articulação social que ele possui. Por meio das rimas e musicalidade, o estilo consegue falar sobre preconceito, pobreza, racismo, violência policial, lutas de classe e outras mazelas sociais, dando voz para aqueles segregados socialmente.

“Ele é o conteúdo que mostra a realidade das pessoas e dos locais. Eu sempre brinco que se você quer conhecer uma cidade, de verdade, você deve procurar o rap daquela cidade, porque você não vai ver só o cartão-postal que as pessoas querem te passar, não vai ver só a praça bonita, o shopping legal. Você vai ver como é a realidade daquela pessoa segregada”, afirmou Mano Hood.

O hip hop é vida, ele salva mesmo. Ele tira pessoas das drogas e do mundo do crime. A gente precisa dar a oportunidade de falar, mostrar o quanto ele é bom

Hip-Hop – O hip-hop é um movimento cultural nascido nas periferias urbanas dos Estados Unidos da América na década de 1970. O movimento surge a partir da junção de quatro expressões artísticas (ou quatro elementos): DJ, Breaking, MC e Grafite.

Do trabalho conjunto de dois desses elementos, o DJ (Disk Jockey) e o MC (Mestre de Cerimônias), surgiu um novo gênero musical: o “Rhythm and Poetry” (“Ritmo e Poesia”) ou simplesmente “rap”.

Foi o DJ Afrika Bambaataa, um dos precursores da cultura, o responsável por delimitá-los em uma unidade, dando origem à organização universal Zulu Nation. A criação da Zulu Nation foi importante a ponto de Bambaataa propor um quinto elemento ao hip-hop: o “conhecimento”, que complementaria e ligaria os outros quatro.

De Bambaataa para Mano Hood. O agitador cultural, além de seu programa dominical, também trabalha com projetos sociais que levam a cultura urbana para dentro das escolas e universidades, dando visibilidade e voz às reivindicações presentes nas músicas. É o quinto elemento sendo posto em prática. Se os ouvintes não vãos até a rádio, a rádio vai até eles.

Para Mano Hood, é importante tirar a cultura das ruas e levá-la até escolas, universidades e locais de ensino. “No começo, eu lembro o quanto foi difícil começo, entrar e fazer a apresentação de hip hop nas escolas, nas universidades.

Hoje, a gente está lá, as pessoas querem que a gente esteja falando sobre isso [hip-hop]. Eu fiz meu TCC de Geografia falando sobre o hip hop nas escolas, fiz o meu mestrado em educação sobre a potencialidade que o hip- hop tem no ensino, trabalhei com o hip hop dentro da sala de aula e ele dá certo”, contou.

Desde adolescente Mano Hood sente na pele o que os adeptos da cultura hip-hop sentem, sendo tão, frequentemente, estereotipados, e que o rap retrata toda a discriminação presente nos meios sociais.

“Eu era chamado de ‘maloqueiro’, tomava muita geral da polícia, enquanto ia da Vila Pequena [atual Batel] até o Parque do Lago para andar de skate. Então, aquilo que estava nas músicas, daquele preconceito em cima do ‘cara’ que andava de skate, que andava com a camiseta larga e calça larga acontecia com a gente, e a gente viveu. Vivemos esse preconceito”, recordou.

Mano Hood diz que a cultura hip hop vem ganhando corpo, em Guarapuava, porém, ainda falta maior visibilidade para aqueles que produzem e escutam.

“Eu sempre falo que o hip hop é vida, ele salva mesmo. Ele tira pessoas das drogas e do mundo do crime. Ele resgata. Então, a gente precisa dar a oportunidade de falar, mostrar o quanto ele é bom, e que estas pessoas se descubram a partir do hip hop também”, finalizou.

Para você que não conhece o Sintonia Hip-Hop, basta sintonizar na Unicentro FM todo domingo das 19h às 21h. ou, se preferir, acesse: https://unicentrofm.com.br/ao-vivo/.