Alep cria grupo de trabalho para enfrentamento da obesidade

O objetivo é a apresentação de um projeto de lei estadual sobre o tema

Considerada uma epidemia do século XXI, a obesidade será o foco de esforços concentrados de especialistas e do legislativo estadual. Um grupo de trabalho foi formado na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) com o objetivo de coletar informações e sugestões para um projeto de lei visando à saúde dos paranaenses, 

O evento “Ações Integradas para o Combate à Obesidade no Paraná” foi proposto pelo presidente da Frente Parlamentar da Medicina, o deputado Ney Leprevost (União). O encontro reuniu diversos especialistas para abordar essa doença crônica, progressiva, recidivante e que possui dados alarmantes: 70,71% de paranaenses então com sobrepeso e 36,79% são obesos. Os números estão acima dos nacionais, que apontam 68,6% de pessoas com sobrepeso e 33,98% com obesidade.

“Eu fui procurado por um grupo de médicos que estão extremamente preocupados com o aumento da obesidade e das doenças relacionadas na população brasileira, como o diabetes, pressão alta, colesterol alto, doenças que se não forem tratadas precocemente podem matar.

Então, vamos ouvir os mais conceituados especialistas no tema no Paraná em um grupo técnico que irá elaborar um projeto de lei com sugestões, propostas de conscientização em relação à prevenção da obesidade e também estabelecendo um protocolo padrão de tratamento”, explicou Leprevost.

“Vivemos uma realidade alarmante. As novas gerações podem ter uma expectativa de vida mais curta do que as anteriores tudo por causa do avanço dessa silenciosa da obesidade e de doenças correlatas”, afirmou o médico Caetano Marchesini, uma referência em cirurgia bariátrica.

O presidente nacional da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Antônio Carlos Valezi, disse que o Paraná se destaca por ser o estado que mais faz procedimentos bariátricos.

“Os pacientes elegíveis são inúmeros, mas atendemos uma parcela muito pequena, até mesmo aqui. Estamos procurando aumentar o acesso a esse tipo de tratamento. O certo seria evitar que precisassem da cirurgia, por isso precisamos de atitudes políticas e médicas para que esse paciente não fique tão obeso”, disse.

Ele ainda fez um alerta em relação às crianças. “A obesidade infantil está aumentando muito, inclusive avançando em índices maiores que os adultos. Uma em cada três crianças está acima do peso. Isso indica que a expectativa de vida dessa futura geração provavelmente será menor do que a nossa”, acrescentou.

O presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes no Paraná, André Vianna, citou que o diabetes afeta 17 milhões de pessoas sendo 90% dos casos são causados pela obesidade. “Por isso, o enfrentamento é de imensa importância. Hoje todas as diretrizes internacionais colocam o tratamento de obesidade como prevenção e tratamento do diabetes”, afirmou.

Vianna ainda enumerou diversos males provocados pelo diabetes como cegueira, disfunção renal, sendo a maior causa de amputação não traumática, infarto, AVC, morte precoce e perda de anos de vida ativa do paciente. “Tudo isso com um custo exorbitante para o sistema de saúde, com trilhões de Dólares gastos no planeta. Portanto, é importantíssimo tratar a obesidade, antes de se tornar diabetes”, reforçou.

O presidente da Sociedade Paranaense de Cardiologia, André Ribeiro Langowiski, citou o impacto da obesidade nas doenças cardiovasculares.

“Falando especificamente da obesidade visceral, aquela com aumento da circunferência abdominal, por mais saudável que a pessoa seja, há o aumento do risco cardiovascular”, disse. “Tanto o infarto quanto o AVC têm relação com processos inflamatórios. E o obeso é um indivíduo inflamado por natureza”, afirmou.

Alimentação e atividade física

De acordo com a presidente do Conselho Regional de Nutrição, Cilene da Silvas Gomes Ribeiro, apesar de haver outros fatores, a alimentação é fundamental no contexto da obesidade.

“A questão também é social, pois muitas vezes falta o acesso a alimentos saudáveis. Outro ponto importante é a regulamentação dos alimentos ultraprocessados, com tributações e a regulação da publicidade sobre esses alimentos”, comentou.

“É fundamental que a gente trabalhe unindo vários profissionais, várias estruturas governamentais diante da epidemia da obesidade, porque infelizmente os programas ainda estão falhando”, disse a professora e pesquisadora do curso de nutrição da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Regina Maria Vilela.

“O Brasil é o segundo país no mundo em número de academias, mas apenas o 7°, 8° na utilização desses espaços. As academias têm muito a contribuir no tratamento da obesidade, por ser um espaço de atenção primária da saúde”, citou o presidente do Conselho Regional de Educação Física no Paraná (CREF-PR), Gustavo Chaves Brandão.