Dr. Antenor se une a educadores em Guarapuava contra terceirização das escolas estaduais

Audiência pública na Câmara Municipal reuniu professores, comunidade e parlamentares em repúdio ao programa “Parceiro da Escola”

Nesta quinta-feira (12), a Câmara de Vereadores de Guarapuava recebeu uma audiência pública promovida pelo Núcleo Sindical da APP-Sindicato, que reuniu educadores, representantes políticos e a comunidade escolar para debater os efeitos da terceirização das escolas estaduais paranaenses através do programa “Parceiro da Escola”, do Governo Ratinho Júnior. O encontro marcou mais um capítulo da resistência organizada contra a iniciativa, que já homologou a gestão privada de 82 escolas em todo o estado. Em Guarapuava, quatro colégios seguem o modelo: Cristo Rei, Liane Marta da Costa, Francisco Carneiro Martins e Antônio Tupi Pinheiro.

Entre os presentes, o deputado estadual Dr. Antenor discursou contra a proposta, classificando-a como parte de um projeto neoliberal de precarização dos serviços públicos. “É a valorização de uma educação precarizada, para que a escola pública se fragilize cada vez mais. Na prática, os pais acabam tirando seus filhos da escola pública para colocá-los em escolas privadas”, afirmou. Em sua fala, o parlamentar relacionou a iniciativa a um processo histórico de retirada de direitos, sustentado por governos alinhados ao que chamou de “extrema direita”, citando líderes como Margaret Thatcher, Fernando Henrique Cardoso e Jair Bolsonaro.

A crítica mais incisiva recaiu sobre os efeitos diretos do programa para os profissionais da educação. “Há uma exigência absurda para que o professor experiente, que dedicou anos ao estudo e à sala de aula, seja tratado como ultrapassado. Estamos vivendo a desvalorização do conhecimento e a imposição de uma lógica empresarial à escola pública”, denunciou. Para Dr. Antenor, o programa não passa de uma tentativa de “entregar o que é público aos amigos do rei”.

A vereadora Cris Wainer, presente na audiência, também criticou o modelo de gestão e destacou a constante camuflagem do projeto, que estaria sendo renomeado de forma a suavizar seus reais objetivos. “Ora é ‘parceria’, ora é ‘amigo da escola’. Mas, no fundo, trata-se do mesmo projeto liberal que desmonta o papel social do Estado. E ainda nos acusam de sermos contra a tecnologia — quando, na verdade, defendemos uma educação que use a tecnologia sem abandonar as pessoas”, pontuou.

A parlamentar também denunciou a exoneração de diretores eleitos, uma consequência direta da implementação do programa nas escolas. “Vários diretores foram convidados a se retirar de seus cargos, sem justificativa plausível. Isso é perseguição política, é autoritarismo disfarçado de gestão”, completou.

A vereadora Professora Terezinha também compôs a mesa do debate e fez críticas à condução do governo estadual. “E, pela primeira vez, temos um governo que se digna a usar o nome de Rato, mas que tem feito um papel muito de rato, nesse sentido mesmo, porque tem roído, de maneira vergonhosa e desumana, a educação pública do estado do Paraná. Porque, neste governo, o projeto é a destruição da educação”, afirmou.

Ações

Já a presidente do Núcleo Sindical da APP em Guarapuava, Jane Almeida, apresentou um panorama detalhado das ações empreendidas ao longo de 2024 para barrar o avanço da terceirização nas escolas do município e da região. Em um relato emocionado e didático, Jane afirmou que o APP-Sindicato atuou de forma intensa nos colégios afetados, realizando campanhas, panfletagens, greves e plebiscitos com foco na mobilização da comunidade escolar.

“O que era para ser ‘gestão’ virou dominação. O que prometeram como ‘parceria’ virou imposição. O que vendiam como ‘modernização’ virou precarização”, sintetizou Jane. Ela ainda relatou o descaso enfrentado pelas escolas após o anúncio do programa, com direções depostas, contratos irregulares, falta de materiais pedagógicos e abandono das estruturas físicas.

A presidente do sindicato também chamou atenção para a estratégia utilizada pelo governo para validar o programa: a realização de plebiscitos sem quórum mínimo. “Quando não tem quórum, a decisão deveria ser suspensa. Mas aqui se inventa uma nova forma de entender a democracia”, apontou.

Ao expor os impactos concretos da proposta nas escolas de Guarapuava e em outras regiões do estado, Jane Almeida reforçou o que Dr. Antenor viria a concluir com firmeza. “Educação é para libertar. Mas este governo quer domesticar. Quer que nossos filhos sonhem pequeno, aceitem salários baixos e não questionem nada. E enquanto houver esse projeto em curso, nós estaremos em luta”, concluiu.

O encerramento do encontro não teve um tom protocolar. Foi marcado por indignação, aplausos e um sentimento coletivo de urgência. Ao final, professores, estudantes e representantes da comunidade repetiram a mensagem que ecoou durante toda a noite: educação não se vende, se defende.

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