Curitibanos criam micro usina para que cada imóvel produza a própria energia elétrica

FONTE: Fabrilar.com.br/blog

Começo de mês, contas a pagar. Quando chega a fatura de luz, dá vontade de cair duro pra trás, de tão cara. Ainda mais nestes meses frios, em que as pessoas utilizam o chuveiro mais quente, o aquecedor e quando as operadoras de energia adotam a bandeira vermelha (o Kilowatt/hora fica mais caro). Este ano, tivemos o maior aumento percentual de energia dos últimos 14 anos (15,99%) no Paraná. Já pensou se você pudesse ter uma pequena usina hidrelétrica em casa, para gerar a sua própria energia e não precisar pagar quase nada de luz? Dois jovens curitibanos inventaram uma micro usina caseira, capaz de abastecer uma casa e ainda sobrar energia. Não dá para instalar em qualquer lugar, mas é uma ideia inovadora.

Os engenheiros mecânicos Felipe Wotecoski, 31 anos, e Juliano Rataiczyk, 30, criadores da usina, sempre gostaram do assunto energias renováveis e, como o Brasil é o país com maior potencial hídrico do mundo, pensaram no uso da água para geração de energia. Assim criaram a micro usina hidrelétrica, que pode ser instalada no quintal de casa e não gera nenhum impacto ao meio ambiente.

A pequena usina (que ainda está na fase de protótipo, tem o formato e tamanho de uma caixa de abelhas ou de um fogão quatro bocas, como brincam Felipe e Juliano), é capaz de gerar até 720 Kilowatts/hora por mês (uma economia de cerca de R$ 500 mensais com a conta de luz). A quantia é suficiente para abastecer de três a quatro residências urbanas ou duas a três propriedades rurais mensalmente. E o que sobra da energia produzida é jogada de volta na rede da Copel, que pode ser usada pela vizinhança (igual como acontece com outros sistemas, como os de energia solar e eólica).

As mega usinas hidrelétricas são muito grandes e difíceis de gerenciar. A ideia é descentralizar esta produção, com equipamentos simples de instalar, operar e fazer manutenção, pra dar conta da crescente demanda de energia que temos visto a cada ano. Temos cada vez mais aparelhos eletrônicos dentro de casa, mostra Felipe.

Relógio bidirecional

Para conseguir ter esse benefício de reduzir a conta de luz, é preciso substituir o relógio comum da Copel por outro bidirecional, que conta o quanto de energia foi usado da rede da operadora, e o quanto a micro usina jogou na rede de energia. O relógio calcula a diferença e, se a pessoa consumiu mais energia da Copel do que da micro usina, paga só esta diferença. Mas se não consumiu nada da rede da Copel e ainda jogou energia da micro usina para a rede, vai ganhando créditos, que podem ser usados ao longo de 60 meses. E um detalhe é que a pessoa pode aproveitar estes créditos em quaisquer outros imóveis sobre o mesmo CPF ou CNPJ.

Economizando

O empresário Daniel Collere, 54 anos, mora no município de Colombo, na região metropolitana de Curitiba, e tem uma chácara em Antonina. Foi na chácara dele que os jovens engenheiros instalaram os primeiros protótipos, testaram e conseguiram as devidas licenças e homologações para produzir e comercializar as micro usinas em larga escala. Daniel conta que o fornecimento de energia na região, à beira do Rio do Nunes, é muito instável, principalmente quando chove ou venta muito. E a chegada do equipamento hidrelétrico veio em boa hora. Reduziu as perdas de aparelhos elétricos queimados (antena parabólica, antena da Sky, geladeira, etc.) e deu um alívio pro bolso. Vou pra lá só aos fins de semana. Mas fim de tarde e noite sempre falta luz. Ficávamos a luz de velas. Chegava até a ser romântico, brinca Daniel, que gasta cerca de 300 Kw/h por mês na propriedade. A usina é capaz de pagar a conta de luz da chácara e ainda manda créditos para abater da residência do empresário, em Colombo.

É um investimento que pra mim se paga em menos de três anos. É um projeto legal e que ainda ajuda a natureza. Tenho tanques de peixes e, antes, eu oxigenava a água com a queda natural da água, de um rio que passa em cima da chácara. Mas como agora a água passa pela turbina da micro usina, desce bem mais oxigenada para o tanque. E o equipamento não altera em nada as propriedades da água, nem polui, mostra ele, que conseguiu otimizar a produção de tilápias.

Mais em conta

A geração caseira de energia através da água é uma inovação. Mas a micro usina hidrelétrica tem algumas limitações de instalação. É preciso ter uma fonte de água perto da propriedade (pequeno rio ou riacho, até mesmo um vertedouro, ou seja, uma disponibilidade mínima de água) e uma queda natural (por gravidade) de pelo menos 15 metros de altura, para que a correnteza tenha força suficiente para acionar a turbina da usina.

Conforme Felipe Wotecoski, um dos criadores do equipamento, havendo estas condições, o fluxo de cinco litros de água por segundo é suficiente. É uma quantidade pequena, visto que uma descarga consome nove litros por segundo. Um cano de PVC de tamanho médio (40 milímetros) poderia ser suficiente para isto. Mas, para evitar travamentos no caminho e a água fluir mais rápido, os engenheiros optaram por utilizar um cano maior, como os usados em instalações sanitárias de uma residência. Indústrias que possuem pontos de água sob pressão também podem ter os equipamentos.

Uma micro usina hidrelétrica caseira pode ter quantos módulos forem necessários, multiplicando a produção. E a vantagem de ter mais módulos é que, se um dos equipamentos para de funcionar por algum motivo, os outros continuam suprindo a demanda, pois apesar de interligados, agem independentes.

Uma micro usina, com um módulo, custa hoje R$ 19.900. Mas Felipe diz que, se mais módulos forem instalados, os equipamentos adicionais custam menos. E a expectativa é que o custo reduza em breve, tão logo as encomendas e a produção em série aumente.

Felipe defende que a inovação precisa beneficiar toda a população. Avalia que as micros centrais também poderiam ajudar a tornar equipamentos públicos autossustentáveis energeticamente e, com isso, reduzir gastos de prefeituras, por exemplo. Parques com quedas d’água, como o Barigui, poderiam receber a tecnologia, reduzindo os custos com iluminação, assim como escolas, postos de saúde e outros estabelecimentos da cidade, justifica Felipe, que junto com Juliano, estudam outras possibilidades de instalação da micro usina em residências urbanas, onde não há riachos ou vertedouros de água perto.