Um xeque mate na retórica

Estamos em 2015 e não tenho visto entusiasmo de ninguém. Governantes estão embrutecidos e governados estão cada dia mais queixosos. Pressentimos medo em tudo. Diuturnamente procuramos algo de diferente, de esperançoso e não vemos nada. Tudo vai depender se assimilaremos este estágio cinzento ou se teremos coragem de rugir.

De jornais a revistas, TV aberta e por assinatura, blogs e redes sociais, o que vemos em política nacional, estadual e municipal é um desalento. Não fazemos sequer ideia de quanto tempo aguentaremos os preços subindo e a conta sendo repassada aos consumidores; transporte coletivo mais caro nas capitais; discursos que só justificam a contenção e cortes sem a comprovação de sua real necessidade; buraco da Petrobrás cada vez mais fundo e manobras políticas com pouco ou nenhum escrúpulo em todos os parlamentos. Trata-se de um momento excepcionalmente incerto.

Até onde vai o corte de verbas na educação, saúde, segurança pública ou outra área vital? Estas medidas atingirão nosso salário? Até onde irá a investigação da Petrobrás? Qual o limite da tolerância da população? Perguntas não faltam.

De tudo isto temos claro que precisamos sobreviver neste período de vacas magras e de deserto e, para tanto, precisamos que nossos líderes falem conosco com clareza, sem arrogância e com vivacidade sobre o real estado que a União, o Estado e o município estão e como podemos superar as dificuldades desta fase ruim. Neste caso, inexistem milagres, mas sim ações transparentes e compartilhamento da verdade para que coletivamente possamos nos mexer.

Não há mais espaço para que um governante seja único detentor do poder. A tese de que um governante deve sobreviver a todos para que ninguém sobreviva a ele, é coisa do passado. É por esta razão que nossa Presidente, em instinto de sobrevivência, precisa se ajustar e considerar outros modos de governar e outros modos de gerir nossa economia, nossas estatais, nossas instituições. Analogamente, tal tese deve ser estendida a todos os governantes.

Sobre a corrupção, me permitam um pequeno aparte. Impossível jogá-la para debaixo do tapete. Trata-se de um problema de difícil solução, diria ‘quase impossível’. Pode parecer heresia de minha parte, mas a corrupção, nos dias de hoje, está mais viva entre os empresários e cidadãos comuns que propriamente nos agentes políticos. Não existe um único culpado. Somos todos culpados. Dizer que a corrupção está só no PT ou nos partidos da base aliada é por si só um discurso corrupto. Tirar este e colocar aquele é como escreveu Gilson Iannini ‘apenas trocar peças, sem mexer nas engrenagens’.

Enquanto a política continuar a ser este compadrio de barganhas e uma cumplicidade dos amigos do rei, fazendo renda e fornecer favores a amigos, não há a mínima possibilidade de gastarmos energia nela. Assim, este primeiro semestre será decisivo para que a sociedade seja administrada por mais um discurso que ainda não provou sua fundamentação ou se a mesma terá condições de um lance genial de xeque-mate no atual modelo político com ações que podem fugir ao controle.

Evidente que a sociedade brasileira tem consciência de que não é só com grito que as coisas se resolvem e que ela precisa dar sua contrapartida de sacrifício. Mas isto precisa ser clarificado com teorias e ações de nossos gestores de maneira que as coisas fiquem claras como a luz do sol. Urge um grande convencimento. Saberemos colaborar se soubermos que há coerência entre o discurso e a prática dos novos eleitos e reeleitos. Do contrário uma explosão de raiva poderá ser o cimento de uma nova primavera de conflitos e insurreições.

O momento não é de retórica, mas sim de argumentos reais que nos devolva o mínimo de confiança. O atrativo do salvador está gradualmente esmorecendo, e os eleitores estão comparando mais o que os políticos dizem com aquilo que eles realmente fazem.