Duas Américas distintas

Na história das competições olímpicas é fato que os países mais desenvolvidos têm um desempenho superior às outras nações. O mesmo expediente pode se aplicar aos jogos Pan-Americanos, especialmente nesta que foi a sua 27ª edição, disputada no Canadá. Os anfitriões, junto com os Estados Unidos dominaram o quadro de medalhas, causando um recuo dos países da América Latina, que viram suas marcas despencarem em relação às demais edições recentes dos jogos.

Com 217 medalhas (78 de outro, 69 de prata e 70 de bronze), o Canadá terminou na segunda colocação e obteve seu melhor resultado entre as últimas edições do evento. Além do fator casa, que contribuiu tanto para Canadá quanto para os Estados Unidos (Toronto fica há apenas 150 Km de Buffalo, cidade do estado de Nova York), os canadenses colheram os frutos de um programa olímpico muito bem estruturado, que rendeu boas posições em diversos eventos mundiais e que também deverá ecoar nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.

Já os Estados Unidos, mesmo utilizando equipes B e C em modalidades como natação, atletismo, ginástica artística (feminina) e tiro esportivo, superaram o desempenho dos Pan-Americanos de 2007 e 2011. Assim, juntos, os Estados Unidos e o Canadá faturaram 482 medalhas no total, deixando bem claro que a edição 2015, teve duas disputas distintas: uma entre as equipes da América Anglo-Saxônia e outra entre as equipes latinas.

A consequência do crescimento dos times norte-americanos foi a queda da maioria dos países da América Latina. Cuba, por exemplo, tradicionalmente é reconhecida como uma das principais potências olímpicas, está sofrendo uma queda vertiginosa nestas últimas edições do Pan. Em 2003 os cubanos obtiveram 152 medalhas (72 de outro, 41 de prata e 39 de bronze). Em 2007 o número caiu para 135 (59 de outro, 35 de prata e 41 de bronze). Em 2011, o número quase se manteve: foram 136 (58 de outro, 35 de prata e 43 de bronze). Mas, nos jogos de Toronto, a queda foi expressiva, com apenas 97 medalhas (36 de outro, 27 de prata e 34 de bronze).

A Colômbia (que ganhou holofotes nos primeiros dias do Pan-Americano, superando o Brasil momentaneamente no quadro de medalhas) e México também tiveram um desempenho pior que na edição passada. Em 2011, os colombianos ficaram com 84 medalhas (24 de ouro) e em 2015 o número caiu para 72 (27 de ouro). Já os mexicanos despencaram de 133 medalhas (42 de ouro) para 95 (com apenas 22 de ouro).

Apenas quatro países latino-americanos conseguiram, de uma forma ou outra, manter no mesmo desempenho da edição passada ou melhorá-lo. Um deles foi o Peru, que já se prepara para a edição de 2019, em Lima, que dobrou seu número de medalhas de 7 para 14 (4 de ouro, 4 de prata e 6 de bronze). O Equador também conseguiu melhorar. Em 2011 foram 24 medalhas (7 ouros, 8 pratas e 9 bronzes) e em 2015 foram 32 (7, 9 e 16).

Já os rivais Brasil e Argentina, mantiveram suas marcas. Sétimos colocados nas duas últimas edições, os argentinos repetiram as 75 medalhas de 2011, embora tenham perdido seis ouros (15 medalhas, contra 21, de 2011). O Brasil, por sua vez, repetiu as 141 medalhas, perdendo 7 ouros em relação à 2011 (41 x 48). Mesmo assim, os brasileiros confirmaram o terceiro lugar geral, alcançando a meta estabelecida antes do evento.

Por se tratar de uma delegação jovem, o resultado brasileiro pode ser considerado bom. É importante lembrar que grandes forças, como os times de vôlei masculino e feminino estiveram com equipes mistas. Outra ausência importante foi a do nadador César Cielo (treinando para o Mundial), além de outros atletas que não estiveram em cena por contusões, como o ginasta Diego Hipólito. Ou seja, com força máxima, o resultado poderia ter sido um melhor, embora dificilmente os brasileiros teriam condições de brigar com os EUA e Canadá, por posições no quadro de medalhas.

A grande questão para os brasileiros, a partir de agora, são os Jogos Olímpicos de 2016. Pelo fator casa, o Brasil deve melhorar sua colocação em relação aos últimos jogos (em 2012 e 2008 o país ficou na 22ª colocação, com 17 e 15 medalhas, respectivamente), mas a briga pelas primeiras colocações ainda é um sonho muito distante. Ainda temos muito que evoluir em nossos programas olímpicos e nas categorias de base para virar uma potência do esporte.