Assédio não é cantada, nem elogio, nem brincadeira, é violência

Todos dias mulheres são assediadas sexualmente e agredidas verbalmente nas ruas, nos ônibus, no trabalho, nos espaços de lazer, na faculdade. Não é cantada e nem elogio, é violência.

Foto: reprodução

“Fui vítima de uma tentativa de estupro dentro do ônibus. Esse tarado mostrou os genitais e tentou me segurar na hora em que fui pedir socorro. Isso pode acontecer com qualquer mulher, de qualquer idade e em qualquer lugar, portanto divulguem, esse rosto deve ficar marcado, conhecido, pois na delegacia constou cerca de 20 processos pelo mesmo motivo e ele ainda continua impune! Estou muito triste, nervosa, revoltada com essa situação. Quando teremos nossa segurança adequada? Quando poderemos sair de casa sem nos preocupar se seremos violentadas?” Esse depoimento é o da estudante Mayara de Lima, que foi assediada dentro do transporte público em março desse ano, em Guarapuava. O texto, postado em sua página no facebook teve grande repercussão.

“Depois de uma segunda feira de correria no trabalho, tudo que eu queria era chegar em casa e descansar. Era mais ou menos 7h30 da noite. Desci do ônibus na rua perto da minha casa onde sempre desço. Estava com fone de ouvido e pensando longe, mas senti que tinha alguém atrás de mim, ele falava mas na hora eu achei que ele tava acompanhado ou então que falava no telefone. Quando a música acabou foi que eu vi que ele tava falando comigo, um monte de coisa nojenta que eu nem quero reproduzir. Apressei o passo e ele apressou também. Não sei de onde que eu tirei coragem, mas olhei pra trás e falei que se ele não parasse de me seguir eu ia gritar.  Aí ele me xingou, gratuitamente, de “vadia”, e outras coisas horríveis. Senti que ele diminuiu os passos, mas não vi pra onde ele foi. Aí eu corri até em casa. Ele parecia ter uns 30 e poucos anos, usava calça jeans e um moletom azul. Mas não olhei pra cara dele”.

Esse outro depoimento é de Beatriz Morais*, vítima de assédio na rua, há algumas semanas atrás. “Me senti péssima, cheguei em casa e chorei. Isso já tinha acontecido comigo antes, já aconteceu com minhas irmãs, com a maioria das minhas amigas. E não aguentamos mais. Assédio incomoda, invade, é uma violência sim”, comentou Beatriz.

Caminhar pela rua sozinha e ter medo de ser violentada. Ouvir palavras vulgares muitas vezes tidas como “elogio”. Andar no ônibus e ser assediada por um desconhecido. No trabalho ser assediada pelo chefe… Essas e tantas outras são as situações que as mulheres enfrentam todos os dias. Em uma sociedade patriarcal onde o machismo é vastamente reproduzido nas mídias sociais, na televisão, na publicidade, com uma postura que inferioriza e objetifica as mulheres, o assédio encontra um terreno confortável.

Em sua definição, o assédio consiste numa perseguição insistente e inconveniente que tem como alvo uma pessoa afetando a sua paz, dignidade e liberdade. O assédio sexual  é um tipo de violência que se caracteriza pela insistência de determinada pessoa em se insinuar sexualmente para outra, provocando desconforto e constrangimento. Isso acontece normalmente de um homem para uma mulher e o decreto-Lei nº 10.224, de 15 de maio de 2001 é bem claro quanto ao assunto: Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício do emprego, cargo ou função.

Assédio é violência. É crime. Não é brincadeira, não é cantada e nem elogio. Esse tipo de violência não deve, em hipótese alguma ser naturalizado. O assédio constrange, invade a privacidade e pode provocar traumas psicológicos na vítima.

Denuncie

Mulheres que sofrerem assédio no transporte público, no trabalho, na faculdade, nos espaços de lazer, e nas ruas devem ir a Delegacia da Mulher e fazer o Boletim de Ocorrência. Para a denúncia, é preciso informar as características físicas do agressor, e o maior número de informações que tiver. No caso de assédio no ônibus, informar a linha e número do ônibus, data e horário em que ocorreu o fato. Você não precisa ficar calada e nem mudar de calçada ou de ônibus, erga a cabeça e siga em frente.

* Nome fictício. A personagem preferiu preservar sua identidade.